sexta-feira, 8 de junho de 2012

Jornalismo Literário vive “boom” na América Latina


Livros, revistas, coleções, workshops, prêmios... crônica jornalística está em alta no continente
Quem procura histórias, mas não quer se esquecer da realidade, encontra na América Latina uma literatura potente, cara à mente e ao coração: a crônica jornalística. Não é de agora que o chamado jornalismo narrativo (ou literário, como preferir) vibra nas letras de grandes autores latino-americanos. Hoje, no entanto, fala-se hoje de um “boom” da crônica de não-ficção no continente.
E as evidências não são poucas. Nos últimos anos, proliferaram as revistas, as coleções, os workshops e os prêmios voltados ao gênero.
Falando das primeiras, é de chamar a atenção que certa escassez na oferta cultural de muitos países da região não afete a variedade de títulos dedicados às crônicas da vida. Temos, sem pretensão de uma lista definitiva: Gatopardo (México, América Central e países andinos), Etiqueta Negra (Peru), The Clinic e Paula (Chile), Elmalpensante e Soho (Colômbia), Pie izquierdo (Bolívia), Marcapasos(Venezuela) e, ufa, Piauí, no Brasil.
Se a lista de publicações é extensa e crescente, a de autores anima muito mais. Eles podem ser veteranos, como o argentino Martín Caparrós, o nicaraguense Sergio Ramírez, o mexicano Juan Villoro, o colombiano Héctor Abad Faciolince e o porto-riquenho Hector Feliciano. Ou então dar corpo a uma safra de novas vozes, na qual se destacam os peruanos Julio Villanueva Chang, Daniel Alarcón, Daniel Titinger, Gabriela Weiner e Toño Angulo. Todos eles alçados à “fama” graças ao sucesso de Etiqueta Negra, revista editada em Lima na qual já publicaram seus textos escritores tão respeitados como Jon Lee Anderson, Alma Guillermoprieto, Francisco Goldman e Susan Orleans, habituais da bíblia do jornalismo narrativo, The New Yorker.
 
Garcia Marquez, que acaba de completar 85 anos, continua sendo expoente da crônica jornalística latino-americana
Por sinal, costuma-se dizer que vem do norte a semente inspiradora dos cronistas latinos, o que não é verdade. Antes de surgirem nos Estados Unidos os cânones da narrativa jornalística típica da New Yorker, lá pelos anos 1960, aqui na terrinha se arriscaram nessa arte figuras como o argentino Rodolfo Walsh e o colombiano Gabriel García Márquez. Era a década de 50 quando Walsh lançou “Operación masacre”, livro-testemunho que revela a trama oculta de uma série de massacres de militantes políticos, civis e militares nos lixões de José León Suárez, zona norte da Grande Buenos Aires, em 1956.
García Márquez – que em 1955 publicou a reportagem literária “Relato de un náufrago”, baseada em entrevistas com o único sobrevivente do naufrágio do navio A.R.C. Caldas – afirmou certa vez que o nosso continente se fez por suas crônicas. Para o ganhador do Nobel, nos relatos dos cronistas de Índias já se assomavam os germes do chamado realismo mágico e do estilo latino-americano de contar histórias descrevendo a vida cotidiana.
Jornalismo com alma
Mas o que é, finalmente, a crônica jornalística? “Um conto que é verdade”, explicou García Márquez. Para Martín Caparrós, ela resulta de certo jornalismo abrigado pela literatura e que é muito mais instigante do que o tradicional, “porque cria uma cultura e não fala de uma que já existe”. Se for realmente boa, uma crônica não inventa ou celebra o surpreendente, mas trata de descobri-lo, fazendo com que o leitor se interesse por algo que em princípio não lhe preocupava nem um pouco.
A febre atual
Quem quiser ficar em dia com o novo ímpeto da crônica jornalística latino-americana encontra em duas publicações recentes uma saborosa compilação de crônicas – e também de textos sobre a arte de escrevê-las.
A primeira é a “Antología de la crónica latino-americana actual”, organizada por Darío Jaramillo Agudelo e lançado pela editora Alfaguara. Depois tem “Mejor que ficción. Crónicas ejemplares”, a cargo de Jorge Carrión, pela editora Anagrama. Por enquanto, tudo em espanhol e para ser encomendado de fora, é verdade, mas nada que um leitor em busca de uma boa leitura não assimile com prazer.
Quem sabe, no futuro, editoras (daqui, de lá) não se esforcem mais para encarar novas compilações que misturem autores brasileiros e hispânicos. Afinal, por aqui essa febre encontra eco também – e latinos com capacidade de assombro diante da nossa mágica realidade somos todos nós. 

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