O Jornalismo
É importante
compreender que o processo de confecção da notícia acontece muito
subjetivamente, através dos processos de produção, execução e edição do
material; ainda que a criação da notícia deva atender critérios básicos,
princípios técnicos e a razão da objetividade deva nortear o conteúdo. As ações
influenciadoras no momento da produção íntima do jornalista com o texto e
os processos de interesses na edição do conteúdo, são questões que não podem
ser desprezadas. É, principalmente, nesse rápido momento, onde reside o poder
jornalístico, que já está incutido no aparelho cognitivo de quem lê a realidade
e a constrói em palavras ou imagens.
As
notícias e seu poder
As notícias, nada mais são do que uma
construção social da realidade, com interesses do jornalista e da organização,
valores, crenças, virtudes e mazelas próprias do ser
humano intrínsecas nas palavras e imagens, e não a realidade em si.
As concepções de imparcialidade, neutralidade, objetividades e a consequente
"verdade jornalística", se não foram ainda, deveriam ser superadas. É
triste quando alguém acredita no discurso desinteressado e imparcial das
notícias. Estas, cada vez mais, estão a serviço de um financiador muito
interessado seja ideologicamente, politicamente, economicamente ou por
quais razões que as queiram abrigar. A questão da Ética no Jornalismo deve ser
destacada, por isso, será discutida com atenção em "Princípios".
A constatação da
mudança nas bolsas de valores por causa de uma notícia interessada ilustra a
ideia de que o jornalismo tem a capacidade de transformar a realidade social.
Por isso, este não se trata de um discurso apaixonado ou vanguardista. O quarto
poder reside justamente na capacidade de transformação, o que não significa que
todo jornalismo e toda notícia vão efetivamente mudar a realidade social.
O grau de poder
jornalístico reside no fato de que as notícias e conteúdos dos meios de
comunicação podem, inclusive, em graus maiores ou menores informar, formar
opinião, instruir, educar, construir ideias em um grande número de pessoas
interpretantes, e como também podem desinformar, deformar opinião, desinstruir,
deseducar e desconstruir as ideias na mesma proporção. Embora cada um possua a
capacidade de interpretar, discernir e aceitar ou não uma informação, quando
expostos, todos estão sujeitos à recepção de imagens, linguagens, sentidos e
conteúdos dos meios de comunicação. Essa exposição, consciente ou
inconscientemente, reflete uma absorção de dados interpretados. Mesmo que eles
estejam sendo filtrados, foram lidos.
Ou seja, assim
como a comunicação pode servir para o bem, também pode servir para efeitos
maléficos dentro do que as pessoas estão absorvendo. Isto porque, estudos
comprovam que pessoas sujeitas, por exemplo, ao consumo da televisão por tempo
prolongado, podem construir, em determinados graus, um olhar canhestro sobre o
mundo e razões de valor lançados na mesma ou projeção parecida com o que ela
assistiu ao longo do tempo. Não é despropositadamente que partidos
políticos e grandes empresas investem pesado na massificação da publicidade nos
veículos, estes lucram e muito com essa lógica de consumo. Esta é a grande fonte
de sustentação financeira dos veículos privados.
Opinião
Pública
Pensar que o
jornalismo através dos meios de comunicação também pode construir, destruir,
mudar e descartar uma Opinião Pública através do enquadramento e tratamento que
dispensa a um fato noticioso, é também compreender um dos aspectos do poder
midiático. [A Opinião Pública pode ser entendida como um juízo formulado ou
preferências que uma maioria de pessoas tem sobre algum fato de conhecimento
público, em que basicamente a opinião de um indivíduo reflete a da maioria. A
proporção e a força da Opinião Pública não podem ser previstas e, por isso, seu
poder social é bastante significativo e muito importante para corporações,
órgãos e entidades.] Isso não significa que toda Opinião Pública surge
necessariamente através de uma cobertura jornalística.
O que ocorre
geralmente, é que diante de uma realidade social se edifique alguma polêmica de
conhecimento público onde as pessoas emitem diversas opiniões sobre o fato e
uma maioria aprova ou desaprova, consente ou discorda, emite
julgamentos de determinadas maneiras. A partir daí, a cobertura jornalística ou
já está envolvida no processo de formação de opinião com a sua abordagem
enquadrada, ou chega posteriormente ao fato e apresenta a dicotomia das
opiniões, ou manipula através de um trabalho minucioso de
desconstrução/construção da imagem que te interesse.
Rumo
à democratização?
Com a internet, a possibilidade da
democratização da comunicação esteja menos ameaçada e mais próxima. Ou seja, na
internet o acesso a outras informações e abordagens e poder de voz a quem não é
dado voz nos meios de comunicação, sobre um determinado acontecimento ou
realidade, é mais garantido, embora existam medidas estatais de controle da
informação. A internet e sua rede de informações dificultam que a
televisão, por exemplo, dê uma cobertura totalmente parcial de um fato, embora
isso ainda aconteça muito.
O fato é que a Comunicação Social e o
Jornalismo são peças fundamentais da construção social e, por isso, exercem
grande responsabilidade para a cidadania, devendo o profissional representar a
classe do trabalhador, que paga impostos, os marginalizados socialmente,
às pessoas desprovidas dos seus direitos, atuando como mediador dos
interesses da população junto ao Governo. Ser instrumento de democracia, zelar
pelo valor público da informação, respeitar os princípios e premissas que devem
reger o ofício, ser independentes e vigilantes do poder, são ou deveriam ser os
valores de todo profissional da comunicação.
No entanto, essa prática efetiva só pode
ser autêntica e inteira, na medida em que os principais meios de
comunicação forem democratizados, de acesso senão a todos, à uma maioria. Assim
como, deveriam assumir o caráter público, e não privado, pois seriam livres das
lógicas de consumo e de entretenimento falido, assumindo sua estrutura
verdadeiramente social, com base na educação, cultura, pluralidade e
democracia. Quando se tratam de TV's privadas, é muito difícil afirmar que a
educação, por exemplo, seja o principal objetivo, sobreposta no interesse da
publicidade de consumo.
Diante da atual vigência, os profissionais
da comunicação, em que a maioria ao invés de estar a serviço social - de uma
maioria desprovida de representação, voz, cidadania, direitos e democracia -
está a cargo do próprio Governo, exatamente a serviço de quem deveria vigiar
para garantir os direitos democráticos e denunciar contra os abusos de poder.
Para ilustrar o fato, podemos citar os jornais impressos comprados por grupos
políticos, às TV's privadas que vivem num eterno "morde e assopra"
entre "gato e rato" com o Governo. De um lado, os canais da televisão
privada e seus demais veículos, muito se esforçam para disfarçar sua
dependência financeira do Governo, que entra pelo espaço da propaganda de
publicidade política, oriunda das caixas de campanha cheias de dinheiro do
engodo eleitoral, do dinheiro do povo; ao mesmo tempo que disfarçam sua atuação
fingindo lutar pela autonomia, verdade, liberdade, justiça, com notícias que
fingem cumprir com a democracia e a sociedade, através de atores, muito bem
posados de humanos, de vozes imponentes e aparências sedutoras e de persuasão
sensibilizadora. Do outro lado, o Governo que "sofre horrores" para
disfarçar sua dependência da mídia, que sem ela não pode fazer muita coisa, mas
também isso, no Brasil, nunca foi tanto problema, pois a grande mídia está nas
mãos dos próprios políticos. "Grande" mídia que vende a ideia de uma
nação que ama o futebol, onde todo mundo pula carnaval, canta e é feliz, que
somos miscigenados, amamos a Xuxa e o Pelé é rei, somos todos iguais e próprios
de uma grande, mas uma grande e rica diversidade cultural, onde todos são
respeitados. Ou seja, a ópera pode ser resumida em que o Governo e a mídia
dizem um para o outro ao mesmo tempo: "Você finge que é verdade e eu finjo
que acredito".
Um profissional consciente do tempo presente
Assim sendo, é de
extrema importância que os estudiosos da Comunicação no exercício do ofício e
em suas pesquisas, estejam atentos para que seu exercício não aconteça
indiscriminadamente e sobremaneira de modo inconsciente. A consciência
social e política é a premissa básica de qualquer agente na sociedade, com uma
perspectiva que não despreze o valor político e possa reconhecer e ponderar as
atuações notórias e relevantes dessa classe, mas que também não feche os olhos
para o escurecimento e a cegueira de manobras ideológicas que estão o tempo
inteiro presentes na vida social. Levar em conta as culturas dos grupos, os
princípios norteadores do ofício e o não afastamento deles, buscando o tempo
inteiro a vigilância e autocrítica das próprias ações, pode ser decisivo na
construção presente de uma futura sociedade. Com menos hipocrisia, mais
transparência e ações verdadeiramente sociais, os jornalistas devem se
apropriar das ferramentas disponíveis e buscar dentro das suas possibilidades
de atuação profissional, um papel mais ativista e fiel de acordo com o que
acredita.
Formar e
fortalecer as relações sociais com os colegas, fontes de informação,
representações de movimentos sociais e entidades, representações políticas,
governamentais, são outras premissas de comunicação social em espaços
democráticos. A busca pela democracia deve ser uma tarefa incansável, por mais
difícil que ela seja. Uma nova era só pode ser real quando existe a verdadeira
vontade de vivê-la. O percurso do caminho resultará na edificação que permitirá
vislumbrar um novo tempo, com novas conjeturas, ideais e necessidades. O mais
importante disso tudo, é que você participou da construção de um processo e deu
sua contribuição consciente para que venham as próximas gerações.
Artigo escrito pela jornalista Anna Karenina Vieira.
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