A Comunicação
Partindo-se do
princípio de percepção, leitura e compreensão de mundo do ser humano, através
da funcionalidade dos sentidos e a fisiologia humana, penso que desde o
primeiro instante de vida da espécie, o homem estabeleceu comunicação onde quer
que tenha sido gerado. Desde o cordão umbilical, a mãe e o filho se comunicam
com a transmissão da fonte de alimentação e energia entre ambos. Assim
como se comunicam com o habitat em que vivem, em tudo o que há vida e energia.
Refletir a
Comunicação exige esforços que abrangem a totalidade universal inalcançável. De
fato, essa área do conhecimento se abre para possibilidades infinitas, e por
isso, não podemos nos apropriar integralmente dela. Os processos de
comunicação possíveis na física quântica ou na ligação química dos elementos,
por exemplo, fogem à capacidade humana de delimitá-los sem os devidos
pressupostos e princípios norteadores, assim como foge a compreensão
da totalidade físico-química, áreas de pesquisas que se expandem
continuamente nas investigações.
Antes de
apresentar uma abordagem mais delimitada da Comunicação, é fundamental
reconhecer sua amplidão e não desprezar os processos comunicacionais que estão
além da interação social humana, como a comunicação nos sistemas binários, dos
animais irracionais, as nanopartículas, das tecnologias e também tudo que
há além do sistema de interpretação do homem.
Ainda lembro de
uma questão filosófica que um professor levantou quando ainda no colégio:
"Se uma árvore cai numa floresta, mas não há ninguém por perto para ouvir
o som da queda, ela fez barulho?" Depois de vários pensamentos e opiniões
manifestos, o professor disse que, na filosofia, não houve som porque não houve
alguém para escutar. Pode-se dizer, então, que uma realidade só é possível
quando existir alguém para observá-la. A possibilidade para essa questão, entre
"sim" e "não", é válida e varia porque vai depender das
condições de existência, dependência ou independência do observador para a
realidade no universo, da dependência ou independência do universo para o
observador na realidade. Não irei discutir aqui essas possibilidades e nem
aprofundá-las, mas apenas usar esse exemplo para dispor minha abordagem na
Comunicação Humana e Social enquanto processo que abriga, no seu aspecto
primeiro, a interação entre um observador humano e uma realidade.
Nesse quesito, é
de fundamental importância destacar a Comunicação enquanto processo que integra
parte dos estudos da Cognição, Signos e Linguagens, tanto a Semiótica quanto a
Linguística. Entende-se que no seu sistema cognitivo, o homem, a partir das
realidades vivenciadas, processa leituras de linguagens que comunicam um
sistema de signos significantes, construindo ao mesmo tempo, um sistema de
significados desses signos, tendo mais signos como resultado.
Partindo-se do pressuposto de que tudo é signo, tudo o que homem pode interpretar
vai gerar, de algum modo, signos de significados da realidade no seu aparelho
cognitivo. A partir disso, ele exprime em uma dada linguagem a sua comunicação.
Desta forma, a
comunicação humana acontece semioticamente na psicologia, o homem lê o
"externo" consigo mesmo, internamente, para depois devolvê-lo
"pra fora", ou não. Quando ele devolve essa comunicação para fora e
compartilha essa linguagem com outra pessoa ou mais indivíduos, então ele
atinge outro patamar de comunicação.
A Comunicação Social
Compreende-se um
fenômeno de Comunicação Social todo e qualquer processo humano de transmissão,
decodificação de informações por meio de um dado veículo que podem ser
trocadas, ou não: um emissor transmite uma informação para um receptor; o
receptor recebe e interpreta a informação e pode ou não responder ao emissor
inicial. Ao responder, o receptor se torna emissor e o que era emissor, passa a
ser receptor da nova informação emitida. O processo pode acontecer de uma
projeção e se encerrar, pode voltar com novas informações e pode ser contínuo
ou limitado.
Essa transmissão
de informação pode variar de um ou mais emissores emitindo uma comunicação para
um ou vários receptores concomitantemente ou não, através de diversas formas de
veículos de comunicação.
Linguagem corporal
e verbal, mímica, sistema fonador e toda comunicação que o homem faz por meio
do telefone, fotografia, rádio, televisão, cinema, teatro, música, literatura,
produções de artes visuais, audiovisuais e gráficas, produção de conteúdo auditivo,
internet via conteúdos multimídia (som, fotografia, vídeo, animação,
gráficos, textos) em blogs, sites, portais, redes, bate-papos, materiais
impressos e digitais de jornalismo (fanzines, jornais, revistas, livros etc),
de comunicação institucional (boletins, informativos, press kits, portefólios
etc) publicitários (logomarcas, cartões de visita, flyers, panfletos, banners,
cartazes, painéis, outdoors, fachadas etc) e todos os veículos que permitem
comunicar qualquer informação, podem ser considerados meios de comunicação.
No início dos
estudos da área, no contexto da primeira Guerra Mundial e da propaganda
político-ideológica, teóricos começaram a engatinhar suas pesquisas
acreditando que a Comunicação Social acontecia partindo necessariamente de um
processo linear e direto do emissor para o receptor. Eles muito se basearam com
o desenvolvimento das "novas" tecnologias e propagação de informação
graças as gráficas de impressão e equipamentos rústicos de fotojornalismo, na
produção dos jornais impressos, assim como o rádio e posteriormente a
televisão. Entendiam que as pessoas, ao processarem aquelas informações,
condicionariam seus comportamentos dentro do que a informação comprada pela
propaganda bélica pretendia. No entanto, essa teoria, como a Teoria
das Balas Mágicas e a Teoria do Espelho, como tantas outras,
sucumbiram e caíram por terra. Por que depois compreenderam que cada ser humano
possui um sistema cognitivo diferente, que a cultura e a geografia, por
exemplo, são fatores que influenciam na leitura das informações que
chegam na realidade de cada indivíduo, e por isso, cada um vai ter o seu modo
de interpretação e de escolha individual de aceitar ou não aquela informação.
Sem dúvidas, a
Comunicação Social é um processo complexo de interações, feed backs e sofre em
seu trâmite inúmeras influências de diversas ordens, cultural, ideológica,
política, econômica, natural etc. Muitos teóricos em seus estudos, na
construção do conhecimento científico da Comunicação e desenvolvimento de
suas pesquisas, apontam diversos caminhos e diretrizes para esta vasta área.
A exemplo, cito
Max Weber, Marshall Mcluhan, Jesús Martín-Barbero, Theodor Adorno, Walter
Benjamin, Jurgen Habermas, Paul Lazarsfeld, George Gerbner, entre
outros. Também podemos citar nomes como Serge Halimi, Jorge Pedro Sousa, Nelson
Traquina, José Marques de Melo, Eugênio Bucci, Manoel Carlos Chaparro, Adelmo
Genro Filho, Bruno Souza Leal, Leandro Marshall e Jorge Duarte.
Podemos por assim
dizer, que o funcionamento da sociedade ocidental contemporânea na atual
estratificação sistêmica, basicamente se dá através das estruturas econômica,
política e judiciária, os três Poderes (executivo, legislativo e judiciário),
com a intervenção participativa da Mídia (entre maior e menor escala de atuação
das entidades) nestes espaços de poder. Através da cobertura e,
consequentemente, da transmissão ideológica político-econômica, a grande
mídia através da detenção e concessão dos meios de comunicação atuais,
operam para comunicar ao maior número de pessoas que tem acesso aos
veículos de dadas instituições. São órgãos de comunicação que detém informações
privilegiadas, acesso e veículos mais consumidos pela maioria das pessoas. Por
isso, a expressão do "quarto poder" diz respeito ao poder que a mídia
e o jornalismo têm numa sociedade. E, de fato, não é exagero.
Artigo escrito pela jornalista Anna Karenina Vieira.
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