Texto polêmico
sobre o Sistema Universitário de Rádio e Televisão Educativas da Universidade pode
estimular debate a respeito da TVE Uesb, canal nº. 4
Um artigo
publicado recentemente em veículos de comunicação onlines de Vitória da Conquista, com título, “Debatendo a Comunicação
na Uesb”, do professor do curso de Comunicação Social, Dirceu Góes, discute a
respeito do Sistema Universitário de
Rádio e Televisão Educativas da Universidade, o SURTE. A polêmica abre
espaço para discussões sobre as TV's universitárias e provoca reflexões sobre o
papel social da TVE Uesb, enquanto veículo de caráter público com deveres democráticos.
Segundo consta
no artigo, a recente saída da Portaria nº 1094, de 1º de julho desse ano,
assinada pelo vice-reitor da Uesb, Rui Macedo, nomeia o professor Francis José
Pereira a exercer o cargo de Assessor Geral do Sistema de Comunicação, para
responder também como Diretor do Sistema de Rádio e Televisão Educativas da Universidade.
Posto que, a portaria tem caráter retroativo de 10 meses, tempo em que o
nomeado já exercia função, desde 1º de setembro de 2008.
O autor do
artigo, Dirceu Góes, também conselheiro do SURTE, já foi o diretor de
jornalismo da TVE Uesb, através do convite que Francis Pereira, o então
nomeado, o fez quando assumiu a Direção da TVE Uesb, segundo relata, em
entrevista, o Presidente Deliberativo do SURTE e Pró-reitor de Extensão da Uesb,
Paulo Sérgio.
Em seu texto, o
professor Dirceu Góes questiona as atribuições do cargo de “Assessor Geral do
Sistema de Comunicação”, “que não tem tempo para gerir e motivação em
representar o Sistema de Rádio e Televisão Educativas da Universidade”, ao argumentar
que a portaria retroativa reveste-se de “dissimulação e de um propósito em
adulterar a personalidade da TV e da Rádio”. Além disso, Góes cita a resolução
do Conselho Superior de Ensino, o CONSU, instância máxima da Universidade, e em
entrevista torna a sustentar, que “o professor Francis não desempenhou aquelas
funções cabíveis ao diretor, conforme previsto na resolução”. Salienta também
em seu artigo as atividades, executiva (publicitária), do então nomeado, como
empecilhos para exercer as competências do ofício. Para Góes, a portaria reduz “sua
amplitude pública para uma condição de assessoria específica, meramente
institucional”, referindo-se à TV e a Rádio da Uesb.
De acordo com o
pró-reitor e presidente do SURTE, Paulo Sérgio, “para regulamentar uma situação
que estava vaga, solicitei a portaria do reitor” e, “então o professor Francis
foi convidado pela Reitoria para ocupar o cargo”, conta. O mesmo reconhece as
dificuldades para administrar os cargos na universidade, mas discorda do
artigo, “são denúncias precipitadas, a meu ver, inverídicas na maioria das
colocações”.
Segundo o
parecer jurídico do auditor fiscal da Receita Federal e professor de direito da
Uesb, Sr. Marcelo Machado, “o ato em si é legal, foi praticado por um agente
político competente, utilizando-se de um instrumento adequado que é a portaria”,
e deixa claro, “não percebi uma ilegalidade manifesta por tal portaria”. Por
outro lado, pode o assessor exercer atividades de executivo? Para Machado, “isso
é uma controvérsia. Acho que não deve ser atribuído ao assessor desenvolver
atividades executivas”.
O pró-reitor,
Paulo Sérgio, explica que “desde setembro (do ano passado) o professor Francis
está com a incumbência de administrar o SURTE. Ele estava acumulando inclusive
duas outras funções: a assessoria de comunicação e a televisão”. Na opinião de
Machado, “é extravagante atribuir competência executiva àquele que foi nomeado
como assessor, dá margem para abusos”. Porém, é uma questão que “deve ser
analisada no concreto, em casos a serem devidamente demonstrados e comprovados”.
Para Machado, a portaria não contraria a resolução do CONSU, citada no artigo,
porque “não é o papel dela vedar o procedimento, e sim regulamentar”.
A fim de clarear
alguns pontos pautados no artigo, nossa equipe buscou ouvir as possíveis
colocações que o professor Francis José Pereira teria a fazer. Mas o assessor
não quis ceder entrevista. O Sr. Paulo Sérgio afirma que “houve problemas, que estou
considerando particulares, conjunturais”, referindo-se aos professores Francis
e Dirceu (que desde o mês de maio desse ano, então diretor de jornalismo da TVE
Uesb, não exerce mais o cargo).
Segundo Dirceu
Góes, o real motivo que o levou a sair da TVE Uesb, se deve “a desilusão com a
estratégia de condução da qual eu discordo. Por exemplo, como é que o núcleo de
produção de programas pode nascer dentro de uma assessoria de comunicação, e não
dentro da própria televisão?”.
TV pública e universidade
“É necessário
discutir conceitualmente o que vem a ser uma Televisão Pública”, esse é o
parecer do coordenador e professor de Jornalismo da Uesb, e também conselheiro
do SURTE, José Duarte. “Se fosse esperar pela conceituação, a Televisão não
estaria no ar, e nós iríamos perder a concessão”, referindo-se à TVE da
universidade. “Eu acho que tem alguns problemas. Certos programas que estão no
ar... Não têm que copiar o modelo da televisão comercial”, opina o coordenador.
Para o
estudante de Comunicação da Uesb, e representante regional da ENECOS (Executiva
Nacional dos Estudantes de Comunicação Social), Paulo Maurício, a composição do
SURTE, “não se apresenta muito democrática, visto que só há uma cadeira para um
movimento ou organização social, mesmo assim, é de indicação do reitor. Os
estudantes, também, só têm direito a um voto neste conselho”.
Para uma orientação
mais clara do que venha a ser uma TV pública e universitária, o fundador e
Presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU), Cláudio
Márcio Magalhães, em artigo publicado, explica que a Tv pública, “sem fins
lucrativos, com mecanismos de participação e fiscalização social, volte-se para
a promoção da educação, cultura e cidadania, para a melhoria da qualidade de
vida da sua comunidade, para a democratização da informação e do conhecimento,
que encare a necessidade da grande parcela da população - assim como as
carências de apenas um - como se fosse de todos”.
Em opinião sobre
a TV universitária, a ex-estudante da Uesb, formada em Comunicação, Morgana
Gomes, entende que “se uma determinada instituição se sente dona dela, cai-se
num vício típico dos jogos de poder. Acho que a gestão destes aparelhos deve
ter um caráter coletivo. A Comunicação e a Política andam mais juntas do que se
supõe. A sociedade deve reivindicar o seu espaço na TVE Uesb, e impedir que ela
seja mais uma triste experiência do Estado”.
Para o
estudante Paulo Maurício, “a TV deve buscar estar atrelada à universidade e não
somente a assessoria de comunicação da instituição, como ocorre. Muitos
funcionários, estudantes e professores nem sabem onde ela funciona”. Maurício
acredita na necessidade urgente do veículo ser avaliado. “Por quem? Pela
comunidade universitária e conquistense”, conclui.
O Presidente
Deliberativo do SURTE, afirma que a TV possui seis estagiários, estudantes de
comunicação, e que os projetos de socialização para a universidade, através da
abertura de editais de extensão vão acontecer, buscando captação de recursos
com outros órgãos, “para que professores, servidores, alunos, acompanhados pela
coordenação, possam propor à pró-reitoria de extensão, programas, que vão ser
avaliados pelo conselho para serem implementados”. Ele entende que é um momento
de ascensão e organização, “a televisão vem cumprindo sua tarefa”. O
pró-reitor, salienta também o papel que a TVE Uesb vem desempenhando: “levar
para a comunidade que ela é também responsável pela sua universidade, a
informação da sua universidade, a comunidade está passando a conhecer a sua
universidade”. Mas admite, “acho até que está faltando mais alguma coisa”.
Dirceu Góes tem
visão diferente, “a TV Pública deve ter o máximo de independência para fazer
telejornais isentos; onde não haja censura aos temas e as pessoas; com matérias
didáticas; sendo educativa e crítica, com discursos plurais. Os que conduzem
hoje a TV UESB acham que o meu pensamento é o de uma pessoa ‘romântica’.
Entretanto, eu acredito ser possível construir utopias, contanto que se
tenha disposição, recursos e cabeça aberta para tanto”.
Para o auditor-fiscal, Marcelo Machado, “é
interessante essa discussão, a universidade tem que ser palco das
controvérsias, das polêmicas, porque é a partir disso que ela cresce”.
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